hoje chorei nos braços de meu irmão.

tempos atrás,
o impeto de me derrubar às palavras
apenas era.
me vinham os versos como me vinham os sentimentos
e eu só precisava colorí-los com meus dedos

hoje, me preparo para dormir
mas antes, preciso me dessofrer
ou me cosofrer junto as palavras.

mas quais palavras, se nada tenho?

não as tenho faz tempo.
nem ao romance
nem para meu toska

me aventuro em desembrulhar-me
(como em cebolas de camadas infinitas sem que exista
propósito algum para ser atingido, ou centro algum para se gravitacionar)

seria a defunção que vi, a que vivo?
seriam estes meus últimos dias, e se forem, como resto minha vida?

seria todo esse desalento tão bobo e óbvio quanto a inação crônica?
estaria meu proprio âmago (se é que há um destes aqui) afundado em sua própria incompetência para, oras, agir?
para respirar, levantar um copo ou, raios!, se direcionar a qualquer coisa mediocremente humana?

mas duro como sou, não acredito em desmotivo
(apenas em desmotivação

para onde vai, tenta ir, mas nunca chega?

sujeito sem âmago mas muitos azuis,
seria a própria angústia o fim da linha?
precisaria eu ou ele de mais comida?
mais pavimento?
mais canções?

os homens-trem-bala me assustam perante minha própria fadiga
pudera eu ser apenas canção!

por hora me revelo:
choroso, tentador do nada e do tudo

e desafinado.

06.06.2022 – 3h04 am

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