andarilhos.

a sopa sempre esfria
devemos então, esquentá-la, jogar fora e buscar outra
ou simplesmente abraçar o frio?

renunciamos o eu-tu, pelo nós todos?
ou pelo eu-outro?

andarilhos de um mundo distímico,
onde nada se sente nas passagens.
continuamos andando a sua mercê,
ainda que as lágrimas venham no vazio solitário?

medo do pouco
ou do muito?
medo do status quo!
quando tudo se mantém repetindo,
aceite, bebendo teu próprio veneno
e então sorria ao minúsculo.
nada grande, para quem sempre busca
crescer.

os traumas aguçam meus enganos,
despercebidos passam
e eu me refaço, passo-a-passo.
na vida, não se tem tutorial.

vou então, abraçar o frio,
que é fadado.
meus traumas desfaço,
andarilho agora descalço,
é tudo um acaso, devo perceber.

ando onde for, sou nós
e no meu próprio veneno
descubro o que está depois,
e então, um novo frio
esquenta.

band-aids.

está todo mundo perdido demais. passamos milênios deteriorando e refinando a fala, e chegamos em lugar nenhum. estamos cada vez mais a mercê do caos, e nosso histórico sociocultural nos prevê de longe. não conseguindo descrever-nos, muralhas são construídas entre um corpo e outro, e os contatos vulneráveis se desvanecem furiosamente. foda-se, respirarei aos pés de uma poesia mundana qualquer!

abstenho-me de minha vivência, e ela me transpassa. nada importa. continuo a atuar conforme proposto. sem sincronia alguma com o que está acontecendo ao redor, ainda estou na dança, ela não irá parar. ela manda. as vezes dançarei tristonho, às vezes risonho. tudo tem perdido e ganhado sentido de forma tão rápida e mecânica quanto meus pulmões se enchendo e esvaziando de ar em um piscar de olhos.

you wont mind, no.

Do you even see me
In your own mind, sometimes?
Do you even feel this urge I feel
to crawl down to me, sometimes?

Well, nevermind
The wheather is so fine,
and I am amused by some
pretty voices.

You won’t mind, no
I just waste time
Drink, cola, dances
at the bar.

You won’t mind, no.
in a little time.

act.

as noites viraram dias rapidamente quando comecei a cair no abismo. as escritas vinham, normalmente de madrugada e eram meu último recurso de prazer. prazer do alívio, finalmente. me despedaçava nas teclas e ao estilizar um poema ou um texto qualquer, me sentia inteiro e respirando novamente.

eu estava evitando com sucesso todas minhas responsabilidades. sem voltar-me ao prazer, acabei me voltando ao nada. eu sabia que aquele momento se tratava de uma bomba-relógio de merda que explodiria em minha cara em pouco tempo. eu deslumbrava das noites e dormia aos dias aguardando o inevitável.

e tudo que lhe toma atenção, quando suas fontes de prazer estão paralisadas, torna-se amargo, superficial, elaborado demais, difícil demais: você tem que cuidar de tudo relativo a si mesmo, na referência dos outros. maqueie-se, sorria, beba, transe, produza, crie e morra conhecido e realizado. você treina a atuação a vida inteira para uma peça que nunca chegará.

trágico.

foi-se a semana catastrófica. elas sempre estarão por ai, pousando quando lhes convém, nada que você possa fazer. me pego fumando e brincando com as fumaças. as músicas são leves e boas; uma bela voz marroquina me lembra de que há mais de 8 maravilhas no mundo me esperando, autônomas e independentes de minhas vontades. hiberno sobre vocês, demônios do meu ontem, o sono cura tudo. os problemas começam a orbitar e dançar em minha volta, perfeita sincronia divina. meus amigos esmagam-se em suas vozes e gritam por mim, os encontros são risonhos e nunca farão mal à alma.

paro no farol. canto com meu rádio, está sol. um jovem artista cuidadosamente expõe os resultados do treino, sorri o tempo inteiro. me pego procurando moedas, ele merece, ele merece. talvez, eu mereça também, é apenas um reflexo de minha história. todo mundo sorrindo, vidros descendo e moedas dadas à sua própria glória. pensamentos de grandiosidade e de minha insiginificância se esbarram numa briga bonita de se ver. acelero meu carro, o paciente está ansioso pelo atraso de 2 minutos.

2brat’s, ladeira a baixo.

osmose,
empatia
ou
simples determinismo caótico

me sinto mais próximo de ti agora,
S!

motivações derretidas e
não alcançamos agora
os restos.
para juntá-los, talvez
numa grande tentativa risonha de
levantarmos-nos.

meus olhos azuis, pálidos e
secos
me mostram tudo cinza.
minha fuga esgotou, e as
pessoas parecem flores mortas.

eu precisava realmente de alguns copos,
uma vacinação contra a vida
um atentado às responsabilidades
uma liberação divina
e qualquer coisa que prolongasse meus momentos de alegria.

talvez se fossemos mais confusos sobre
o nada
o tudo
e todas aquelas coisas que importam demais agora,
dariamos mais risadas
e estariamos genuinamente voltados para o mundo
talvez, S.

até quando permeará
as nuvens cinzas
em nossas ricas e lindas ruas?

osmose,
empatia
ou
simples determinismo caótico

me sinto mais próximo de ti agora,
S!

maldito caos!

em outros dias eu lhe teria, cheia de nós.
maravilhoso.

mas nestes dias
algo te levou.

maldito caos!
não estou no centro do indeterminismo.
tudo mais,
além do nosso nós.

e as angústias agarram-me.
em direções opostas.
contrárias.

aflinjo-me
na necessidade de me ser.

ways.

vá procurar tuas respostas,
corpo vazio.

mas as respostas
nunca são finitas
nunca chegam.

há sempre mais da vida,
para todos os lados.

a vida lhe da rumos.
se engane, escolha um deles
nunca é o melhor
nunca o ideal
apenas outro.
apenas diferente.

nunca melhor
nunca ideal.

mas vá em frente e seja,
não há outro jeito!