cardapios.

Tem um restaurante que vou toda semana. Segunda-feira, sempre as 17-18h e lá está o dono, ele me acena quando entro, eu aceno de volta. Ele interrompe sua conversa com um freguês, pega um cardápio na mão e vem sorridente em minha direção:

– Não preciso de cardápio não, obrigado. Me traz apenas uma coca zero e um copo.

Quando termino minha fala, ele fecha o rosto junto ao cardápio, acena com a cabeça e vai buscar meu pedido. Sou apenas mais um verme explorando sua luz, ar condicionado, cadeira, mesa, TV a cabo e internet – tudo muito oportuno – e pelo preço de uma coca, e ainda ganha-se a coca. Ele deve me odiar. Mas eu vou continuar voltando, nas segundas ao final da tarde, com a mesma cara minha e ele com a mesma cara dele, vamos acenar e trocar uma expressão positiva, durará até ele me trazer aquele cardápio que nunca usei. De qualquer maneira, obrigado Sr. Dono do restaurante, está uma tarde nublada, a cidade da garoa faz jus ao nome, mais algumas desgraças me desprendem da vida e eu estou aqui tentando organizar a merda da minha agenda!

vista-se de mim.

um doce vestido,
leve como teus cabelos
e
os ventos passando em teu sorriso,
me fariam pensar agora em felicidade.

o corpo sempre sutíl.
aquelas ideias que me pegam:
explosivas,
cheias de quês sobre o mundo,
e a paixão pela arte,
filosofia ou ciência:
chicoteiam em qualquer lugar
de meu corpo cheio de mim,
que me aponta para ti
em um tufão sem muitos rumos.

me cego e tento me guiar
pelas vozes de teus
problemas sem sentido
– jogamos fora algumas risadas.

lhe abraço e quero
beijos
e minha boca se guia a tua
e você se guia a mim.

e cá estamos então,
em um romance fadado
a morte.

mas me tento em alguns versos de amor,
mais uma vez.
se crescer agora,
posso estar na muralha da vida,
que outrora me foi negada.

permita-me fugir nos instintos:
tire teu
vestido
e me vista de você.

há tempos meus desejos
não discriminam todos detalhes
que há num corpo como o este.

venha
a mim.

midnight train coming through my stomach.

anxiety attack!
and before my eyes I self-harmed.

1h57 am and its just like a blink of an eye:
– like BOOM!
hours past by
feelings peaking
and I,
stuck with my night and daymares.

find a love;
find a job;
find a fucking heaven on hell, already.

I get passionate about details as fast as I can think.
as well, I get stuck in the middle as stubbornly as it could get.

no good conditions
from trying to be a savior of the world,

but of myself.

childish Gods.

and I felt myself
cracking into a million pieces
when we spoke about our childish Gods,
and how they were now, just
burning into deep hell.
and watching us,
and we were watching them.
and everybody cries aloud.

you had yourself broken down by all of ’em.
we must take hands.

I have you felt in my bones.
and I felt myself,
cracking
into a million pieces.

andarilhos.

a sopa sempre esfria
devemos então, esquentá-la, jogar fora e buscar outra
ou simplesmente abraçar o frio?

renunciamos o eu-tu, pelo nós todos?
ou pelo eu-outro?

andarilhos de um mundo distímico,
onde nada se sente nas passagens.
continuamos andando a sua mercê,
ainda que as lágrimas venham no vazio solitário?

medo do pouco
ou do muito?
medo do status quo!
quando tudo se mantém repetindo,
aceite, bebendo teu próprio veneno
e então sorria ao minúsculo.
nada grande, para quem sempre busca
crescer.

os traumas aguçam meus enganos,
despercebidos passam
e eu me refaço, passo-a-passo.
na vida, não se tem tutorial.

vou então, abraçar o frio,
que é fadado.
meus traumas desfaço,
andarilho agora descalço,
é tudo um acaso, devo perceber.

ando onde for, sou nós
e no meu próprio veneno
descubro o que está depois,
e então, um novo frio
esquenta.

band-aids.

está todo mundo perdido demais. passamos milênios deteriorando e refinando a fala, e chegamos em lugar nenhum. estamos cada vez mais a mercê do caos, e nosso histórico sociocultural nos prevê de longe. não conseguindo descrever-nos, muralhas são construídas entre um corpo e outro, e os contatos vulneráveis se desvanecem furiosamente. foda-se, respirarei aos pés de uma poesia mundana qualquer!

abstenho-me de minha vivência, e ela me transpassa. nada importa. continuo a atuar conforme proposto. sem sincronia alguma com o que está acontecendo ao redor, ainda estou na dança, ela não irá parar. ela manda. as vezes dançarei tristonho, às vezes risonho. tudo tem perdido e ganhado sentido de forma tão rápida e mecânica quanto meus pulmões se enchendo e esvaziando de ar em um piscar de olhos.

you wont mind, no.

Do you even see me
In your own mind, sometimes?
Do you even feel this urge I feel
to crawl down to me, sometimes?

Well, nevermind
The wheather is so fine,
and I am amused by some
pretty voices.

You won’t mind, no
I just waste time
Drink, cola, dances
at the bar.

You won’t mind, no.
in a little time.

act.

as noites viraram dias rapidamente quando comecei a cair no abismo. as escritas vinham, normalmente de madrugada e eram meu último recurso de prazer. prazer do alívio, finalmente. me despedaçava nas teclas e ao estilizar um poema ou um texto qualquer, me sentia inteiro e respirando novamente.

eu estava evitando com sucesso todas minhas responsabilidades. sem voltar-me ao prazer, acabei me voltando ao nada. eu sabia que aquele momento se tratava de uma bomba-relógio de merda que explodiria em minha cara em pouco tempo. eu deslumbrava das noites e dormia aos dias aguardando o inevitável.

e tudo que lhe toma atenção, quando suas fontes de prazer estão paralisadas, torna-se amargo, superficial, elaborado demais, difícil demais: você tem que cuidar de tudo relativo a si mesmo, na referência dos outros. maqueie-se, sorria, beba, transe, produza, crie e morra conhecido e realizado. você treina a atuação a vida inteira para uma peça que nunca chegará.

trágico.

foi-se a semana catastrófica. elas sempre estarão por ai, pousando quando lhes convém, nada que você possa fazer. me pego fumando e brincando com as fumaças. as músicas são leves e boas; uma bela voz marroquina me lembra de que há mais de 8 maravilhas no mundo me esperando, autônomas e independentes de minhas vontades. hiberno sobre vocês, demônios do meu ontem, o sono cura tudo. os problemas começam a orbitar e dançar em minha volta, perfeita sincronia divina. meus amigos esmagam-se em suas vozes e gritam por mim, os encontros são risonhos e nunca farão mal à alma.

paro no farol. canto com meu rádio, está sol. um jovem artista cuidadosamente expõe os resultados do treino, sorri o tempo inteiro. me pego procurando moedas, ele merece, ele merece. talvez, eu mereça também, é apenas um reflexo de minha história. todo mundo sorrindo, vidros descendo e moedas dadas à sua própria glória. pensamentos de grandiosidade e de minha insiginificância se esbarram numa briga bonita de se ver. acelero meu carro, o paciente está ansioso pelo atraso de 2 minutos.

2brat’s, ladeira a baixo.

osmose,
empatia
ou
simples determinismo caótico

me sinto mais próximo de ti agora,
S!

motivações derretidas e
não alcançamos agora
os restos.
para juntá-los, talvez
numa grande tentativa risonha de
levantarmos-nos.

meus olhos azuis, pálidos e
secos
me mostram tudo cinza.
minha fuga esgotou, e as
pessoas parecem flores mortas.

eu precisava realmente de alguns copos,
uma vacinação contra a vida
um atentado às responsabilidades
uma liberação divina
e qualquer coisa que prolongasse meus momentos de alegria.

talvez se fossemos mais confusos sobre
o nada
o tudo
e todas aquelas coisas que importam demais agora,
dariamos mais risadas
e estariamos genuinamente voltados para o mundo
talvez, S.

até quando permeará
as nuvens cinzas
em nossas ricas e lindas ruas?

osmose,
empatia
ou
simples determinismo caótico

me sinto mais próximo de ti agora,
S!