apego à loucura.

dias em que
há estilhaços de vidros para
todo o lado que se olha
e nada parece endireitado

e você eventualmente
para de se lamentar
e você eventualmente
se pergunta porque
e você eventualmente
pondera maldições
e você eventualmente
percebe que não é nada disso
e não é absolutamente nada
e os únicos cacos de vidro que realmente importam
são os que você abre mão de apertá-los com tanta força
e assim,
você eventualmente pode
sentir liberdade no imperfeito

não existem quebrados.
existimos, apenas.
nós.
todos nós.

amém.

memórias borradas
sobre desde quando
me perguntaram como estou

memórias borradas
sobre desde quando
eu quis falar

memórias borradas
sobre desde quando
me senti abraçado

memórias borradas
sobre paredes históricas
entre eu e eu
e eu e nós

apenas memórias borradas de hoje
desborrando em ouvidos bem abertos
e palavras aquecidas.
amém.

atlas.

sou teu atlas.
carrego o mundo nas costas
e enquanto me arrasto,
choro ao chão, e nem mesmo meu reflexo posso ver.

concreto.
subam em cima de mim, minhas costas parecem largas
e fortes o suficiente.

mas a fadiga e o tempo não são tão humildes e
eventualmente eu me pego ajoelhado.

sem valor para jogá-los ao lado,
jogo a mim mesmo.
sem coragem, fico quieto.
sem humor, me deito.
sem abraço conversado, me lamento.
sem nada à frente, me esmago neste peso.

corra ou ame.

é em noites infinitas como essa,
nas quais você decide abraçar
(em melancolia sem fim)
que você pode finalmente olhar no espelho
e defronte teus pálidos olhos azuis,
você se reconhece.

em sorriso profundo encontra:
um grande e original amigo, namorado e paixão.

é talvez aqui e assim,
– trivialmente
onde esses ciclos intermináveis que lhe acompanham
finalmente cessam marcha.

jamais se pôde amar correndo.

ninguém.

ela me disse que não sabia se tinha muito a oferecer.
nada tens. o que tanto quero?
me confortei ao pensar o quão desesperador era essa declaração,
talvez apenas uma vulnerabilidade forjada.

mas os dias passaram,
e você não veio.
as vezes penso que nem eu vim,
fiquei por algum não-lugar.

em dias escuros de ouvidos muito abertos,
de fato:
nada tenho a oferecer
e me parece que todo mundo já sabia.

mortem.

algumas coisas estão tão enraizadas que
você poderia ser morto pelo hábito e nenhuma fibra de seu corpo ficaria surpresa.

há momentos de silêncio
que um homem precisa para viver.
é como um grande suspiro que separa o nada do tudo.

em meu ninho, foi naturalizado que se isole sem grandes notificações,
“é a vida”.
isole-se, não como um lobo saúdavel e solitário,
mas em sinais claros de sofrimento que escritos em nossa pele sussuram:
– cure-se, e tente gritar sem sucesso.

ele.

Da janela de meu quarto avistei:
no topo de uma montanha gloriosa
e de longe vislumbro dEle.
minhas entranhas sabiam: era deus!

me atropelei às pressas em fome de conhecer.
me machuquei dez mil vezes
e outras dez mil sorri, amei e desamei.
aprendi e desaprendi.

já com meus joelhos cansados,
vi Tua sombra: doce engano.

olho para cima,
era eu mesmo o tempo inteiro.

me encontrei.

súplica.

não está em meu alcance
ser nem metade do que me aspiram a ser.
eu não sou apenas eu,
mas todos vocês.
formamos um nós,
e agora encurralado em
extrapolações dos absurdos,
finalizamos-nos com as palavras.
na impossibilidade da expressão coesa e verbal
nos ataco em músicas e poesias para viver os sentimentos proibidos
em vossas narrativas.

quero paz.
não me deixem em paz.
transcedemos todos juntos.
faço a súplica e vocês,
o protesto.

talvez um dia.
por hora, sobrevivo tendo-me.